quarta-feira, dezembro 17, 2008

Querem tirar Jesus do Espiritismo...

É assaz curioso como se propaga uma mentira. Havia um general de Hitler que pregava que uma mentira contada inúmeras vezes transformar-se-ia em verdade e é isso que estamos presenciando no momento. Culpam-se os espíritas que buscam a ortodoxia espírita de tudo, desde querer tirar Jesus do espiritismo ate aquecimento global e falhas na camada de ozônio.

Mas quais são os fatos? Os fatos são que os espíritas ortodoxos clamam e lutam pela busca da coerência doutrinaria, tal qual se encontra grafada na introdução de "O evangelho segundo o Espiritismo". Só. Nada alem disso. Mas qual o drama? O drama é que ao se resgatar isso, não sobra espaço para o culto à personalidade; o movimento espírita teria que abandonar a idolatria que faz a médiuns famosos, teria que deixar de considerar a "infalibilidade mediúnica", teria que começar a (que ousadia) pensar de maneira critica e racional. É ai que a coisa pega, pois há muitos interesses não espíritas em jogo, que vão desde a vaidade pessoal ate interesses meramente financeiros de editoras ou supostos escritores. Eis a verdade sob o véu da alegação de que "querem tirar Jesus do espiritismo".

Se conseguirmos retomar o resgate da coerência doutrinaria, da ortodoxia espírita como declarada na codificação, teremos necessariamente que rever também o sectarismo que se impõem no movimento espírita. Vou dar um exemplo; nesses dias, na comunidade Espiritismo Ortodoxo, iniciaram um tópico sobre o perdão, transcrevendo um trecho da codificação que aponta que o perdão verdadeiro é o perdão cristão. Oras, é necessário entender o que se quer dizer aqui, se somente cristãos são verdadeiramente capazes de perdoar ou se existe um modelo a ser seguido. Perguntei e tive como resposta que ando perseguindo cristãos... oras, mas são essas alegações que estabelecem um juizo de valor sobre quem não é cristão, colocando estas pessoas que respondem por 2/3 ou mais da humanidade em condições de que não são morais, não são éticos, não sabem perdoar, etc., etc.

Pergunto a vocês: Somente cristãos sabem perdoar? Se a pessoa é ateu, judeu, muçulmano, rasta, xintoísta, budista, zoroastrista, etc., etc., etc. não sabe perdoar?

sábado, dezembro 06, 2008

Espiritismo sem Chico Xavier

Texto de autoria do Randy, originalmente postado em uma comunidade do Orkut (link para a referida comunidade no titulo deste tópico)

Algumas pessoas vêm colocando a questão sobre o que seria um Espiritismo sem Jesus. E a acepção filosófica nos parece clara de que o caráter universal do Espiritismo não aceita a centralização em uma única figura. O Espiritismo é de todos e para todos que possam compreendê-lo, seja de cultura cristã, muçulmana, hindu, etc.

Por seu caráter universal, a única figura de que o Espiritismo não pode abrir mão é de Deus. Daí o fato de não ser possível entender um Espiritismo ateu.

Mas, no movimento espírita, feito por homens bem ou mal inspirados, todos em condição falível, vimos uma derrocada de seus principios cientificos e filosóficos quando ele foi desviado para um viés religioso atrasado e estagnador. Nao há conhecimentos novos apesar de haverem fatos novos; não há respostas novas para novas perguntas. E quanto mais o aspecto filosófico da DE é exercido, mais descobrimos o quanto a ausência de pesquisa cientifica e de metodologia de aferição prejudicam e jogam o ME para o atraso.

E o ME acomodou-se em Chico Xavier e seus derivados seguintes. Certamente bem intencionado, este escritor profícuo não conseguiu destacar ou pelo menos estimular entre os espíritas que admiram seus escritos essa necessidade das pesquisas. Chico, por exemplo, salvo engano nosso, JAMAIS mencionou o CUEE em seus escritos e tampouco a necessidade de aferição de suas próprias obras. Exatamente pelo tamanho de sua reputação, agrava-se o tamanho de sua responsabilidade em não retornar o Espiritismo ao seu foco de origem idealizado pelos espiritos superiores e compilado por Kardec.

O Espiritismo popularizou-se com Chico Xavier? Eu prefiro dizer que a expressão "Espiritismo" é que tomou fama e que seus conceitos se vulgarizaram. Os defensores de Chico diriam que ele foi uma figura ímpar, um exemplo moral e etc... Mas, exemplos morais e figuras impares existem em todos os cantos do planeta e nem precisamos citar alguns. O que não existiu foi o papel de liderança para conter os desvios. E ao contrário, os desvios se multiplicaram.

O que difere o Espiritismo de toda crença ou filosofia não é sua capacidade de produzir "lindas mensagens de amor" e "exemplos de caridade". Ninguém precisa ser espirita para escrever lindas mensagens de amor e muito menos ser exemplo de caridade. Nem mesmo foi o Espiritismo quem ensinou ou estimulou essa prática. Isso compõe um dos fundamentos das leis morais e naturais que o homem traz inscrito na consciência. O que difere o Espiritismo é sua capacidade de fornecer respostas cognitivas, informações, dados, parâmetros para que o individuo PENSE e aprimore sua capacidade moral, acelerando sua evolução espiritual.

Exemplos morais são fáceis de achar. As pessoas em geral subestimam seus pais, seus amigos, o vizinho, o pedinte da rua, o trabalhador, a dona de casa, em suma, as pessoas de bem que estão espalhadas em todo canto. Lá está o mendigo que não maldiz sua sorte e sempre sorri para os transeuntes; acolá está o pai de cinco filhos que acorda pela madrugada para honrar seus compromissos de trabalho no meio ao sofrimento de criar sua prole; ao nosso lado está o sujeito que vai ajudar seu vizinho que teve a casa inundada... ou seja, há sempre exemplos morais que podemos seguir e testemunhar, sem a necessidade de nos deslumbrarmos com fenomenos de mídia ou pessoas cuja vida intima não pudemos, de fato, acompanhar.

Então, Chico Xavier, como exemplo moral, é tão importante quanto qualquer trabalhador pelo bem. Aliás, ao menos em publico, ele jamais disse o contrário. Por que protestaria contra isso, então, um admirador deste escritor? Se ele não se considerava melhor do que ninguém, que autoridade qualquer pessoa tem para dizer que ele é melhor?

Mas, exemplos de estimulo ao conhecimento... Quantos temos?... Quantos são os pesquisadores espíritas?... Quantos são os catedráticos que se interessam em ciência espírita?... Onde estão estas pessoas?...

A resposta é que tais pessoas foram susbistuidos por fenomenos de mercado derivados de Chico Xavier. Estão aí os "autores espiritas" que acumulam fama e fortuna com peças literárias que nada possuem de inéditas, senão persistir e prolongar a fantasia das colonias espirituais tão divulgadas por Chico Xavier. Ao menos sabemos que Chico não procurou usufruir de sua fama e nam auferiu lucros pessoais com seus escritos, ao passo de que seus discipulos preferiram as luzes do estrelato.

Se exemplos morais nós temos, mas exemplos intelectuais nem tanto, e sabendo que as obras de Chico promoveram uma situação de comodismo entre os espiritas, em especial nos espiritólicos, tanto quanto promoveram a contra-informação e desvios doutrinários, no meu conceito fica muito claro que o Espiritismo sem Chico Xavier estaria melhor.

Melhor em números? Bem, COM Chico Xavier somente 1,4% da população do maior país espirita do planeta se declara, de fato, espírita. Então, Chico não influenciou, DE FATO, na divulgação do Espiritismo no Brasil.

Melhor em pesquisas cientificas? Sob influencia das obras de Chico, o Brasil não produziu pesquisas espíritas de alguma monta.

Melhor em atitudes morais?... Bem... as pessoas REALMENTE seguem o exemplo moral de Chico Xavier?... É isso o que vemos?...

Acredito que o ME não estaria tão acomodado. Sem os desvios doutrinários, o meio acadêmico não veria o Espiritismo como religião - o que de fato não é - e certamente o interesse oficial nas pesquisas e na obtenção de novas respostas para as novas perguntas já se teria feito fazer.

O bem que Chico Xavier fez para algumas pessoas somente tais pessoas podem dizer. Mas, o mal para o Movimento Espírita resultou no caos e no marasmo por que passamos, na criminosa deturpação do que nos ensina a codificação espírita, no misticismo, no sincretismo catolicista que jamais fez este planeta avançar. E com isso, se o Espiritismo veio CONSOLAR pela capacidade de fornecer respostas, quantas pessoas, de fato, deixaram de ser ajudadas?

Bem mais do que 1,4% da população deste país, certamente.

Não crucificamos Chico. Ele fez o que fez, mas faltou a intenção de quem o promovia - e citamos a FEB em especial - de submeter seus escritos ao rigoroso critério de aferição da verdade. Chico, então, poderia escrever o que desejasse, desde que quem publicasse se preocupasse com a verdade. Estes irresponsáveis hoje são anomimos. Sobrou, portanto, a cruz para ser carregada por Chico Xavier. Foi uma boa pessoa? Tudo indica que sim. Foi um bom divulgador da Doutrina Espíritas? Certamente que não. Foi usado e manipulado pelos roustanguistas da FEB?

Sem a menor dúvida, sim.