sábado, abril 23, 2005

Confissão da Mistificação

por J. B. Roustaing
Do livro "Páginas de Além Túmulo", 3ª. edição - Rio de Janeiro - 1939.
Médium: Carlos Gomes dos Santos
"GUTTA CAVAT LAPIDEM"
(Confiteor)

A mensagem foi dada espontaneamente, no Centro "Família Espirita” Rua do Carmo, 15, Rio de Janeiro e publicada num opúsculo de distribuição gratuita, pelo diretor - fundador daquele Centro, cujo nome citamos com muito agrado e com muita saudade - Mariano Rango D'Aragona, destacada figura de lutador espírita.
Este Centro fica no Catete, à Rua Pedro Américo, 22.



Que as harmonias espirituais se façam em nossas almas são os meus mais ardentes desejos.
Irmãos, da mesma forma que a gota da locução consegue furar a pedra, eu, gota animada do espírito, também hei-de conseguir, por mercê de Deus, arrasar a edificação, em muitos pontos falha, que a minha fragilidade, aliada a outros do Espaço, arquitetou, na melhor das intenções, porém sem reflexão.
Sou, meus irmãos, uma pobre alma, que seria contada no número das que já desfrutam a felicidade integral, se em mim, na minha consciência, não pairasse um cúmulo de desgostos.
Quando entre vós, nas mesmas condições vossas, tendo sido despertado de minha cegueira moral pelos lampejos brilhantíssimos da Luz Divina a nós outorgada por intermédio do missionário a que todos veneramos, sob a designação de Allan Kardec, quis também seguir-lhe as pisadas e, para tal o fazer, depois de acurado estudo do que ele já havia conseguido dos Espíritos reveladores, pensei alguma coisa construir que, se não o ultrapassasse, pelo menos muito concorresse para a conquista da glória, que tanto me agitava.
Pensei – de mim para mim – porque somente a ele fora concedida a gloriosa tarefa de rasgar ao mundo o véu negro que esconde o brilho da luz diamantina que ilumina as almas? Porque não a outro, de boa vontade, também aspirante das recompensas porvindouras?
E nestas conjeturas caminhava eu... quando, por uma circunstância toda espiritual, fui induzido à execução do plano que em mim agasalhava. Então, comecei por realizar o meu intuito, sim o meu intuito, que não era precisamente meu; não vos admireis desta negativa, porque vos declaro à face da verdade, que eu nada mais era, naqueles instantes, que instrumento dos inimigos invisíveis da verdade, que das sombras misteriosas do Além se aproveitavam da minha irreflexão para toldar, como se fora isto possível, a brilhantura da água cristalina que emanava daquela fonte maravilhosa de que vos falei. Sim, não vos admireis – repito – que tenha servido de veiculados da confusão, eu que tanto ansiava pelo destaque entre os meus pares.
É infelizmente esta a triste verdade que confesso neste momento, como hei confessado já noutros pontos, onde me tem permitido Deus que eu faça o meu aparecimento. Mas, irmãos, quereis ver até onde vai a minha tortura? Pois bem: em quase todos os meios onde tenho feito esta sincera confissão, tenho sido repelido por aqueles que, na melhor das intenções, porém despercebidos, vão se envenenando na fonte impura dos ensinamentos que hei deixado.
Fui, meus irmãos, um joguete dos inimigos da Luz-verdade; pois foram eles os autores responsáveis de tudo quanto fiz, contrariando a doutrina lídima que vinha sendo ensinada por Allan Kardec.
Mas – direis – tenho bebido, através do vosso feito, a água pura da verdade. E responder-vos-ei: Não, irmãos, a água pura que bebeis, através do estudo de minha obra, não é minha, não foi obtida por mim. Esta é dele, porque eu e os que me induziam a semelhante atentado, quando não podíamos de todo contrariar, imitávamos, dando, todavia, ao, que imitávamos, uma aparência de novidade verdadeira 72.
Hoje, porém, que se me depara mais uma ocasião de falar aos homens, venho, olhos d'alma fitos do Pai Universal, dizer-vos que mal andei tentando obumbrar a Luz brilhantíssima que irradiava do farol divino que é Allan Kardec.
Irmãos, por caridade, ouvi-me:
A verdade está no que vos legou e não no que vos hei deixado. Lembrai-vos que há, como sempre houve, usurpadores dos alheios direitos, como das alheias glórias; e eu, confesso, fui um deles.
Assim, amigos, desta outra face da vida, em benefício vosso e também no meu próprio suplico-vos abandonardes, a fonte má que aí deixei e voltardes para aquela, donde emana a pureza que é a verdade, esta mesma Verdade que é a Luz.
Abri pressurosos os tesouros kardecianos e esquecei – peço-vos, o que aí ficou do pobre e muito pobre Roustaing.
Que Deus vos esclareça para poderdes caminhar, sem maiores tropeços, em busca da felicidade eterna. "Adeus!"

3 comentários:

Anônimo disse...

César!

Há outras comunicações atribuídas a Roustaing?

Seria mto legal postá-las para podermos confrontá-las.

Abração e parabéns pelo espaço.

Anônimo disse...

Admirável relato, sem dúvida, a confissão de Roustaing. Entretanto, com o devido respeito a aqueles amigos que o condenam veementemente e rotulam como perigoso para o espiritismo, esse perigo não deixa de ser relativo, isto é: apenas para "lobos". `Pois somente lobos caem em armadilhas para lobos, pela própria incúria e avidez por glórias efêmeras.

Anônimo disse...

Admirável relato, sem dúvida, a confissão de Roustaing. Entretanto, com o devido respeito a aqueles amigos que o condenam veementemente e rotulam como perigoso para o espiritismo, esse perigo não deixa de ser relativo, isto é: apenas para "lobos". `Pois somente lobos caem em armadilhas para lobos, pela própria incúria e avidez por glórias efêmeras.