Um excerto do livro "Jesus, esse grande desconhecido" de Juan Arias.
"... Mas, descartada a hipótese de que Jesus e os seus fizessem parte da comunidade dos essênios de Qumran, por mais que algumas de suas doutrinas possam ter influenciado o cristianismo primitivo, o que parece mais provável é que eles integravam o grupo dos fariseus, cuja doutrina era mais próxima àquela que Jesus pregava. Não podemos esquecer que foi um famoso fariseu de seu tempo, José de Arimatéia, quem cedeu seu túmulo para que Jesus fosse enterrado depois da crucificação. E foram alguns grupos de fariseus que foram avisar Jesus, para que ele fugisse, ao saberem que Herodes estava à sua procura para matá-lo.
Pois bem, uma pergunta se impõe de imediato: como é possível que Jesus fosse um fariseu se os quatro evangelhos apresentam os seguidores dessa seita como seus grandes inimigos e perseguidores? A explicação que hoje se dá a essa pergunta é muito simples. Parece que, quando os evangelhos foram escritos - o que coincide com o momento em que as primeiras comunidades cristãs começam a se afastar de suas raizes judaicas para entrar em contato com os pagãos e gentios, entre eles os romanos -, os fariseus eram o grupo dominante do judaísmo, não vendo com bons olhosa abertura do judeu-cristianismo para uma religião universalista, perseguiram duramente os judeus-cristãos, impedindo-os, por exemplo, de continuar entrando nas sinagogas, como haviam feito até então os judeus circuncisos convertidos a Jesus.
Nessas circunstâncias, os evangelistas atribuiram aos fariseus do tempo de Jesus - que eram muito diferentes -, coisas que correspondiam ao que eles estavam vivendo. Assim, todos os ataques sofridos por Jesus, partissem de quem quer que fosse, eram atribuidos aos fariseus. Todas as disputas e os insultos a Jesus foram atribuidos a eles, quando o normal seria que os maiores adversários de Jesus dentro do judaismo fossem, não os fariseus, que eram uma seita liberal - acreditando até na ressurreição dos corpos - mas os saduceus, que representavam a oficialidade do Templo.
Sem dúvida, Jesus deve ter tido seus conflitos com os fariseus, sobretudo com os mais legalistas, mais atentos à letra que ao espírito da Lei, mas não ao ponto de eles serem os grandes inimigos do Mestre. Tanto assim que não se fala no envolvimento de nenhum fariseu durante o processo que levaria Jesus à condenação e à morte na cruz. Na verdade, muitos tinham sido tão amigos dele que até o convidavam para comer em suas casas.
A postura dos evangelistas contra os fariseus foi tão dura que "fariseu" virou sinônimo de "hipócrita", palavra que puseram na boca de Jesus contra os fariseus. Agora uma coisa parece certa: se Jesus não pertencesse de algum modo ao grupo de fariseus, estes não teriam perdido tempo discutindo com ele; simplesmente o teriam desprezado ou ignorado, como mais um louco que se fazia passar pelo Messias.
Hoje a verdade é muito diferente. Poucos sabem, por exemplo, que boa parte das afirmações atribuidas exclusivamente a Jesus já pertenciam à doutrina liberal dos fariseus. Por exemplo, a famosa frase de Jesus, "o sabado foi criado para o homem e não o homem para o sábado", usada pelos fariseus para contrapor-se aos grupos mais tradicionais, que faziam da lei sabática algo estritamente formal. Igualmente, a regra de ouro, "Não façais aos outroso que não quiserdes que vos façam" vinha da doutrina farisaica, ao mesmo tempo em que os fariseus recusavam a prática do "olho por olho, dente por dente", também questionada por Jesus ao pregar, ao contrário, o perdão e o amor aos inimigos.
Acontece que os fariseus, alêm das normas escritas da Lei, defendiam uma tradição oral não-codificada, em que constava, por exemplo, que a circuncisão realizada no oitavo dia não violava o sábado. Mesmo as questões de maior controvérsia entre Jesus e os fariseus eram tópicos doutrinários já em discussão entre os vários grupos de fariseus, que tinham diferentes interpretações dasleis e da tradição judaicas. Tais discussões de Jesus com os diferentes grupos de fariseus vêm provar que, mesmo que não pertencesse estritamente à seita, ele, no mínimo a conhecia bem a fundo e adotara muitas de suas doutrinas."
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5 comentários:
Brilhante. Mesmo sendo uma hipótese, nos faz "despertar" sobre a fidelidade dos relatos sobre Jesus existentes nos Evangelhos. Parabéns pelo texto!
Escrever um livro para trazer "inovações" sobre fatos "desconhecidos" sobre Jesus, fora das bases escriturísticas sólidas, é a nova moda de jornalistas e ateus , que não procuram analisar os textos canônicos para ver se há uma razão para aceita-los. Estudam para ver "falhas" e criticá-los. Acho que é porque a visão de religião que possuem não coadunam com o que o conteudo da Bíblia. Críticar, sem conhecer a teologia e os manuscritos é facil. Todos querem palpitar!
Não é tudo que discordo do livro de Arias, somente as narrativas ingênuas, cópias de artigos de críticos contemporãnios que manipularam o texto antigo para molda-lo aos seus gostos.
"Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e luz para o meu caminho" Sl 119.105
Escrever um livro para trazer "inovações" sobre fatos "desconhecidos" sobre Jesus, fora das bases escriturísticas sólidas, é a nova moda de jornalistas e ateus , que não procuram analisar os textos canônicos para ver se há uma razão para aceita-los. Estudam para ver "falhas" e criticá-los. Acho que é porque a visão de religião que possuem não coadunam com o que o conteudo da Bíblia. Críticar, sem conhecer a teologia e os manuscritos é facil. Todos querem palpitar!
Não é tudo que discordo do livro de Arias, somente as narrativas ingênuas, cópias de artigos de críticos contemporãnios que manipularam o texto antigo para molda-lo aos seus gostos.
"Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e luz para o meu caminho" Sl 119.105
O pouco que estudei sobre os fariseus, não mostram em nenhum momento que eles tenham sido liberais, ao contrário, foram os mais presos as leis mosaicas das escrituras e orais, que quer dizer que seguiam o que era dito como procedimento adequado e não só o que constava da bíblia.
Juan Arías, que não é historiador, escreve sobre temas ligados ao Judaísmo e ao Cristianismo misturando dados aceitos pela comunidade acadêmica com outros resultantes de suas reflexões.
Um grave problema que eu identifico nos livros dele: falta de metodologia. Para Arías praticamente todas as passagens evangélicas são autênticas, o que o faz forçar os textos a dizerem o que não pretendem.
Nesse sentido, fica complicado levar a sério as coisas que ele escreve. Por exemplo, ele afirma que certas falas de Jesus já eram usadas pelos fariseus.
Ora, das falas que ele cita nem todas podem ser de fato remetidas ao Jesus histórico e, em segundo lugar, em quais livros judaicos ele se apóia para afirmar que eram frases farisaicas?
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