Sobre Deus e Sobre “OS Bem”
Moura Rêgo
Na obra “Introdução A Filosofia Espírita, seu autor, José Herculano Pires faz brilhante apanhado de idéias quando coloca:
“Os adversários do Espiritismo desconhecem tudo a respeito e fazem tremenda confusão. Os próprios espíritas, por sua vez, na sua esmagadora maioria estão na mesma situação.
Por-quê? É fácil explicar. Os adversários partem do preconceito e agem por precipitação. Os espíritas em geral fazem o mesmo: formulam uma idéia pessoal da Doutrina, um estereótipo mental a que se apegam. A maioria, dos dois lados, se esquece desta coisa importante: o Espiritismo é uma doutrina que existe nos livros e precisa ser estudada. Trata-se, pois, não de fazer sessões, provocar fenômenos, procurar médiuns, mas de debruçar o pensamento sobre si mesmo, examinar a concepção espírita do mundo e reajustar a ela a conduta através da moral espírita.”
A partir desta constatação, tristemente verdadeira, torna-se a qualquer um de nós, bastando para tal que conheça, pelo menos de sobre o assunto sobre o qual se conversa, uma obrigação em que se restabeleça o correto, se o foco da conversa estiver em desacordo como que expressou a página doutrinaria.
A razão desse pequeno artigo é a de promover um debate sobre a conversa que vem a seguir e que faz lume a uma dúvida que se não nos assaltou ainda, tende a que nos assalte algum dia; A natureza do Bem, ou como coloquei antes, “dos Bem”.
A fraterna discussão teve início numa das listas espíritas nas quais presto o meu pequeno contributo em torno da doutrina.
Segue a parte que nos interessa da troca de idéias, e para qual peço de vocês comentários, embasados na doutrina.
Do texto abaixo retiro tão somente o nome do missivista, por questão ética.
Chico:
Desde logo, agradeço a Moura Rêgo por, pela segunda vez, dispor-se a responder a uma questão por mim colocada.
Quanto a esta última dúvida, a que concerne à relação entre a vontade de Deus e o Bem, peço desculpa por voltar a insistir na mesma questão. Pois, segundo o que infiro da resposta avançada por Moura Rêgo, já se está a pressupor que é Deus quem "cria" o Bem. Isto é, o Bem só seria o Bem porque Deus assim determinaria, pelo que a Lei Moral se identificaria com a vontade divina. Sem Deus, não poderíamos falar em Bem ou em Lei Moral. Porém, pergunto se isto é mesmo assim. É o Bem "criável"? Não será algo que independe da vontade de Deus? Poderia Deus determinar que o Bem tivesse um qualquer conteúdo, isto é, que fosse outra coisa que não aquilo que nós julgamos que é? Não será antes que Deus quer o Bem (que o façamos) porque este é, precisamente o Bem e Deus, como é absolutamente bom, não poderia querer outra coisa? Se não existisse Deus não poderíamos falar, ainda assim, que o Bem é o Bem e que existiria, deste modo, uma Lei Moral?
Obrigado
Amigo Chico,
agradeço a sua atenção para as minhas colocações.
Mas vejamos: Sob meu ponto de vista, este embasado pelo ensino da doutrina, para que relacionássemos o Bem, como sendo independente da vontade d'Ele, deveríamos ter provas irrefutáveis de que a Vontade inicial ou a Ação inicial não vieram de Deus, e assim provaríamos outra coisa:
Que Deus não foi o primeiro, e que algo ou alguém já estava para recebê-lo em sua chegada ao Éter. Ora, tal situação modificaria todas as crenças teológicas que tenham suas bases n'Ele, partindo da primeira e estagiando pelo Cristianismo, chegando a nós, Espíritas.
Doutra feita, podemos elencar dois "bem", um com inicial em maiúscula, significando a creação de Deus, outro com a inicial em minúscula, evidenciando ser, o exalar de nossa vontade.
Tomando -se por regra, então, que não somos nenhuma "Brastemp", que estamos a reencarnar sucessivamente num dos mundos mais atrasados que existem, reconheceremos com total isenção que este "bem" creado por nós, é tão imperfeito, como o sejamos nós, no momento de sua creação.
Sendo assim, nossa consciência, habitáculo da Razão, estará sempre a nos impulsionar para o Bem, com a inicial em maiúscula, não só porque seja ele creação de Deus, mas por outra e este o ponto de apoio, por ser esse "Bem", Perfeito, já que emanou da Perfeição.
Este Bem, creação do Increado, ao qual todos nos devamos adornar, é para mim, sob os luzires doutrinários, a suprema concepção moral, geratriz da lei que agiganta hierarquicamente o Espírito em ascensão por meio dos reencarnes sucessivos.
Espero ter sanado suas dúvidas, mas, reconheço a dificuldade em explanar sobre esse tema.
Abraços,
Moura
É então, desta amável troca idéias, como devem ser todas as discussões entre Espíritas, que peço aos amigos os comentários, sempre bem-vindos.
Muita paz.
Rio de Janeiro,18 de maio de 2007.
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